Abstracts
A Petrificação dos cravos e os silêncios de abril: Reconhecer, Reparar, Radicalizar a história, as memórias e os imaginários da revolução
Apolo de Carvalho (Universidade de Coimbra)
Em janeiro de 2023, na inauguração do novo Jardim da Praça do Império o Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou “a vontade de manter a tradição do império, tal como os seus antecessores”. Este jardim inicialmente projetado em 1940, por ocasião da Exposição do Mundo Português em Lisboa, foi obra de propaganda do Estado Novo para projetar e cristalizar uma ideia de nação imperialista, colonialista e racista, imbuída de um discurso lusotropicalista. Se, de facto, o 25 de Abril fechou as portas ao fascismo salazarista, muitas janelas permaneceram abertas e, através delas, muitos saudosistas têm visto a oportunidade de reavivar a memória colonial e de (re)inscrevê-la no espaço público com a cumplicidade ativa das instituições do Estado. A reabilitação do Jardim da Praça do Império, num contexto de tanta luta contra o racismo e de mobilização por reparações históricas aos indizíveis crimes que foram a ESCRAVATURA e a COLONIZAÇÃO, dos quais Portugal foi pioneiro, responde aos anseios de uma velha portugalidade que se debruça esperançosa sobre as janelas deixadas abertas, ansiando pelo retorno do fascismo e do imperialismo. Nesta conversa, pretendo discutir a colonização da imaginação e do imaginário em Portugal convocando narrativas que foram silenciadas e mantidas fora de tudo aquilo que Abril pretendeu representar.
Apolo de Carvalho é doutorando do Programa Pós-Colonialismos e Cidadania Global do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Bolseiro Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Mestre em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Mestre em Politique et Développement en Afrique e dans les Pays des Sud, pela Sciences Po Bordeaux. É licenciado em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Membro da Afrolis-Associação Cultural, foi investigador no projeto AFROPORT.
The Retornados, the Carnation Revolution and the Decolonisation of the Portuguese Colonies in Africa
Dr. Morgane Delaunay (Universidade de Lisboa)
The Carnation Revolution of 25 April 1974 marked not only the end of the dictatorial regime of the Estado Novo, but also the end of the Portuguese Empire in Africa. In this context of democratisation and decolonisation, marked by a high degree of social and political turmoil, half a million Portuguese settlers, known as retornados, arrived from Angola and Mozambique, most of whom returned to Portugal. This paper aims to analyse the opinion and the discourses of the former settlers on the Revolution as well as on the decolonisation process. Based on contemporary archived of their arrival and retornados’ testimonies collected in 2018, this paper will present the key elements of the repatriated population opinion on the way the decolonisation was conducted, as well as the impact it had on national politics.
Dr. Morgane Delaunay is an historian specialized in the repatriated population of Portuguese decolonisation. She is a member of the Centre for Comparative Studies at the School of Artsand Humanities, University of Lisbon, where she is currently a post-doctoral fellow in the framework of the project “Constellations of Memory: a multidirectional study of postcolonia lmigration and remembering”, coordinated by Dr. Elsa Peralta.
Tracing the Carnations – A Cinematic Journey of Remembrance in Diana Andringa's Operação Angola: Fugir para Lutar (2015)
Sophie Everson-Baltas (Universität Wien)
In 2011, a pivotal event in the anti-colonial and anti-fascist resistance marked its 50th anniversary: around 60 African students escaped from Portugal through Spain to France and Germany, before eventually returning to their homelands to join the independence movements. Among them were Pedro Pires, Joaquim Chissano, and many others who played key roles in toppling the authoritarian regime and leading their countries to liberation. Recognising the need to decentralise memory and history in the collective commemoration of the Carnation Revolution, this presentation focuses on the two-part documentary Operação Angola: Fugir para Lutar (2015) by director and journalist Diana Andringa. By examining this audiovisual journey of remembrance, the presentation explores how the film challenges linear, unilateral narratives of the past in favour of polyphony. Through the staging of media and sites of memory, as well as transgenerational processes of remembering, the film highlights the importance of renegotiating history and memory for both the present and the future, underscoring the need for alternative forms of conveying the past.
Sophie Everson-Baltas ist Universitätsassistentin und Doktorandin im Bereich Portugiesisch am Institut für Romanistik der Universität Wien. Ihre Forschungsinteressen umfassen u. a.: Filme und Literaturen der portugiesischsprachigen Länder mit einem Fokus auf Portugal, Brasilien und Mosambik; Gedächtnisforschung; Audiovisual History; transmediale und -kulturelle, post- und dekoloniale Perspektiven und Theorien.
Portugueses retornados e a descolonização da memória coletiva
Bruno Góis (Universidade de Lisboa)
O fim do império colonial e a fundação da democracia portuguesa partilham o cinquentenário. Estas efemérides são paralelas a duas grandes narrativas estruturantes da identidade nacional: o país dos “Heróis do Mar”, como canta o hino nacional, cuja era dourada são os “Descobrimentos”; e o 25 de Abril de 1974 como evento fundador da democracia. Para acomodar as duas narrativas, o 25 de Abril coloca na fatura do regime deposto todos os males das guerras de libertação de 1961-1975. Entre os livros da escola e o senso comum, a presença de portugueses em África fica, assim, numa nebulosa de aventuras marítimas com quinhentos anos. O retorno de meio milhão de portugueses das ex-colónias (1975-1979) encaixa mal nestas narrativas. Recorrendo a testemunhos sobre trajetórias de vida, esta comunicação analisa de que modo a integração da história e da memória dos portugueses retornados pode contribuir para a descolonização da memória coletiva portuguesa.
Bruno Góis é investigador do Centro de Estudos Comparatistas, integrando atualmente a equipa de investigação do projeto “Constelações de memória: um estudo multidirecional da migração e memória pós-colonial” (CEComp FL/ULisboa, ICS/ULisboa). É licenciado (2008) e mestre em Relações Internacionais (2012) pelo ISCSP, e Doutor em Antropologia com a tese intitulada “Portugueses Retornados de Angola: trajetórias e memórias com classe, género e ‘raça’” (Universidade de Lisboa, 2023). Foi um dos coordenadores do livro Retornar, Traços de Memória do Fim do Império (Edições 70, 2017) e tem realizado investigação no cruzamento entre a etnografia digital e o estudo dos portugueses retornados das ex-colónias (ex. «Connected colonial nostalgia: content and interactions of the Retornados e Refugiados de Angola Facebook group», In The Retornados from the Portuguese Colonies in Africa, org. Elsa Peralta, London and New York: Routledge, 2022).
Agora somos retornados: A transformação radical das estruturas políticas, narrativas e cognitivas em O retorno (2012) de Dulce Maria Cardoso
PD. Dr. phil. Daniel Graziadei (Ludwig-Maximilians-Universität München)
A minha proposta consiste numa leitura de O retorno (2012) de Dulce Maria Cardoso através da perspetiva particularmente complexa dos retornados, focando nas incompreensões narrativas resultantes das diferenças cognitivas e discursivas entre as colónias e Portugal. O romance, situado em 1975 entre Luanda e Lisboa, é narrado pelo jovem Rui, de quinze anos, que descreve a sua cidade natal, a difícil despedida e a chegada complexa e confusa a um hotel de cinco estrelas na metrópole convertido em centro de acolhimento de retornados. As experiências de estranhamento e os processos conflituosos de transculturação no país de origem dos pais, inóspito tanto climática quanto emocionalmente, desempenham um papel central. A perspetiva pessoal de um adolescente nascido na colónia, que chega a Lisboa com sua mãe e irmã, espera o pai, teme o agravamento da condição da mãe e vive a complexa situação político-social, permite discutir diversas questões num caleidoscópio de sentimentos, incluindo saudade, esperança, ódio, medo e amor. Assim, o discurso da descolonização revolucionária é confrontado com a nostalgia imperial e colonial, sendo o seu sucesso e fracasso concretizados pelo destino de uma família. A análise do uso literário das incompreensões é particularmente produtiva, pois tanto o mal-entendido persistente como os momentos de revelação desses mal-entendidos desempenham funções importantes na desconstrução de paradigmas e estereótipos. A ambiguidade inerente à dupla significação de revolução – como movimento circular ou mudança repentina e frequentemente violenta – e o potencial de mal-entendidos também serão considerados. O desafio cognitivo deve ser abordado tanto na estética da produção quanto na receção. Finalmente, Cardoso insere-se na tradição de uma ética e estética da perspetiva adolescente, criando espaços narrativos que vão da revelação ingénua à investigação radical do status quo, exigindo uma participação crítica e cognitiva dos leitores.
PD. Dr. phil. Daniel Graziadei (*1981, Meran, Italien) studierte Allgemeine und Vergleichende, Englische und Spanische Literaturwissenschaften an der Ludwig-Maximilians-Universität in München. Am Institut für Romanische Philologie der LMU arbeitete er von 2009 bis 2021 als wissenschaftlicher Mitarbeiter und von 2021 bis 2024 als Vertretungsprofessor; erst für Lateinamerikanische Literatur und Fachdidaktik, dann für Spanische und Portugiesische Literatur. Er initiierte und leitet den Kurs „Kreativ schreiben!“ des Schreibzentrums LMU. Daniel übersetzt aus dem Italienischen und Spanischen und ist selbst schriftstellerisch und performativ aktiv.
50 Years Later – The Carnation Revolution in the Street Names of Lisbon: Is there Room for other Perspectives on 25 April?
Joe Green (Technische Universität Chemnitz)
My presentation examines the memory of the Carnation Revolution as reflected today, 50 years on, in the street names of Lisbon. I shall analyse the image of the revolution that these names convey and question whether there is space in the existing commemorations for a more comprehensive view of this anniversary. Decolonisation was a crucial aspect of the revolutionary years, and in 1975, a central square was renamed “Praça das Novas Nações” to honour the independence of former Portuguese colonies. But to what extent were these “new nations” integrated into representations of 25 April? Were they no longer considered significant after gaining independence and the revolutionary period ended? In my presentation, I shall explore the current status of street names in 2024 and discuss how 25 April 1974 is portrayed – both through renamed streets and those still bearing names from the dictatorship era. I also consider other portrayals of resistance, including the roles of women, artists, musicians, and underground movements.
Joe Green hat Musik und Kulturwissenschaften in London und Lissabon studiert und promoviert gegenwärtig an der Professur Kultureller und Sozialer Wandel, TU Chemnitz, zu Erinnerungskulturen im urbanen Raum Lissabons.
A subversão da mitologia nacional no ‘pós-25 Abril’. Eduardo Lourenço e Portuguex de Armando Silva Carvalho
Orlando Grossegesse (Universidade do Minho)
Segundo Eduardo Lourenço, a “contra-imagem de Portugal de que necessitamos para vermos tais quais somos” sofreu uma “distorção interna” possivelmente incurável imediatamente após as primeiras semanas eufóricas da revolução (Lourenço, 1978: 58). Apenas os “cenários gastos” do Estado Novo foram substituídos, mas nada mudou na sua autoimagem. A revolução não compreendeu como converter a velha imagem mítica em algo novo. O texto “Psicanálise mítica do destino português” tem duas datas: verão de 1977 e primavera de 1978. Pelo meio há leituras, entre as quais Eduardo Lourenço destaca particularmente Portuguex de Armando Silva Carvalho pela sua “acuidade” e “originalidade” na “subversão da mitologia cultural lusíada” (idem, 12). Lourenço sente-se encorajado por este romance esquizo-histórico (subtítulo) no projeto “de repensar a sério e a fundo uma realidade tão difícil de aprender como a portuguesa” (idem, 13). Entretanto, no actual cânone da história literária ‘pós-25 Abril’ Portuguex não aparece. A que se deve esta ausência?
The Transnational Memory of the Tarrafal Concentration Camp: An Integrative Spirit of April in the Lusophone World?
Holger Kohler (Julius-Maximilians-Universität Würzburg)
On 29 August 2023, the foreign ministers of Portugal and Cape Verde signed a bilateral memorandum to mark the 50th anniversary of 25 April and the independence of Cape Verde on 5 July 1975. The memory of the former Tarrafal concentration camp (Clause 2.a), which was closed just a few days after 25 April 1974, played a pivotal role during the commemorations. While Portuguese opponents of the dictatorship were imprisoned there during the initial phase between 1936 and 1954, African independence fighters from Angola (MPLA, UNITA, FLNA), Guinea-Bissau and Cape Verde (PAIGC) were detained between 1962 and 1974. Despite the time that has passed since the two experiences of imprisonment, the common anti-dictatorial and anti-colonial struggle against the Estado Novo has created a community of suffering and solidarity that transcends national borders. This community has been invoked by the countries concerned in a transnational discourse of remembrance, which reached a significant milestone with the international symposium of 2009.
With my contribution, I would like to show that the memory of the Tarrafal concentration camp could serve as an example of an integrative espírito de abril that recognises both the contribution of the Portuguese resistance and that of the African struggle for independence, thus declaring it to be the common heritage of Portugal and lusophone Africa.
Holger Kohler studierte Anglistik, Geschichte und Politikwissenschaft an der Universität Würzburg. Sein Studium schloss er mit einer Arbeit über den exilierten portugiesischen König Dom Miguel I. ab ("Zwischen Gunst und Hass: Eine Untersuchung über einen umstrittenen Monarchen"). Außerdem arbeitete er im Drittmittelprojekt "Merck 1668-2018 - Von der Apotheke zum Weltkonzern" an der Universität Bonn. Im Rahmen eines vom BMBF-geförderten Forschungsprojekts an der Universität Würzburg analysiert er den Umgang des demokratischen Portugals mit der Diktatur des Estado Novo unter Berücksichtigung transnationaler Vernetzungen mit Brasilien und Kap Verde.
Os soldados como vítimas do processo de descolonização em Os cús de Judas (1979) de António Lobo Antunes
Benjamin Meisnitzer (Universität Leipzig)
A Revolução dos Cravos abriu as portas à democracia em Portugal e pôs fim à longa e desgastante Guerra Colonial Portuguesa, possibilitando a independência das províncias ultramarinas. Uma crítica frequente aos portugueses deveu-se ao abandono repentino e caótico dos territórios, sobretudo, em África na sequência do 25 de abril e a falta de períodos de transição que tivessem permitido às ex-colónias organizarem-se a nível estrutural, político e económico. Ficaram para trás territórios explorados exaustivamente e ressentimentos por parte da população autóctone, devido à exploração e subjugação violenta e sem escrúpulos durante o regime colonial.
Mas não foi só nas províncias ultramarinas que ficaram feridas profundas, que até à atualidade custam a sarar. Os retornados muitas vezes perderam tudo aquilo que haviam construído – a obra de uma vida em muitos casos – e foram obrigados a regressar para um país que lhes era estranho. A estes juntaram-se inúmeros soldados exaustos do esforço de guerra, traumatizados, que tudo deram pela defesa das colónias e que agora voltavam como derrotados. Homens que deram tudo e que perderam tudo.
A reflexão crítica sobre a guerra colonial teimou em acontecer, tendo uma das primeiras abordagens críticas na literatura sido o romance Os cús de Judas (1979) de António Lobo Antunes. O objetivo da presente comunicação é analisar o impacto que esta obra ficcional teve na renegociação da memória e da identidade coletiva, pese embora seja da autoria de um veterano de guerra. A obra é um grito denunciador das Forças Armadas e da sua gíria, bem como do papel nefasto da Igreja Católica na Guerra Colonial, retratando as experiências, os sentimentos e, sobretudo, a revolta e o assombro interior de um soldado retornado de Angola. A trama desenvolve-se entre as imagens sangrentas e assombrosas de companheiros mortos e mutilados que assaltam a memória do narrador autodiegético e a descrição de como a guerra lhe roubou a infância e o quebrou psicologicamente.
Uma peculiaridade da abordagem reside no facto de Antunes, para além de exímio escritor, ser um dos mais conceituados psiquiatras portugueses, pelo que romance aborda a dimensão psicológica daqueles que voltaram em ruínas para Portugal e que o país desprezou, apesar do seu enorme sofrimento e das suas guerras interiores.
A presente comunicação pretende, deste modo, abordar o lado sombrio, muitas vezes ignorado, daqueles que lutaram pela pátria e que, após a Revolução, voltaram para Portugal, mas nunca ou apenas a enorme custo voltaram a integrar a sociedade e que não receberam o apoio e os tratamentos psicológicos e psiquiátricos que teriam necessitado. Os monólogos interiores e as metáforas extensas, típicas da obra de Antunes, permitem ao leitor mergulhar nos horrores da Guerra Colonial e no tormento da alma dos seus combatentes, retratando a fragmentação da identidade dos retornados. À luz do romance, concluiremos discutindo em que medida o reconhecimento dos retornados como vítimas do processo de descolonização é compatível com o papel de destaque atribuído aos movimentos independentistas em África, questão para cuja resposta a obra Antuniana, no geral e, especialmente, Os cús de Judas, dá várias e importantes pistas.
Benjamin Meisnitzer é Professor Catedrático de Linguística Portuguesa e Espanhola da Universidade de Lípsia desde 2018. Formou-se em Literatura Portuguesa, Linguística Espanhola e Alemã nas Universidades Nova de Lisboa e Munique. Após o seu mestrado em Literatura Portuguesa, doutorou-se pela Universidade de Munique em Linguística Românica com uma tese dedicada ao presente narrativo numa perspetiva comparada. Foi professor assistente na Universidade de Munique e professor Associado na Universidade de Mogúncia. Os seus focos na investigação são a linguística de variedades, semântica temporal, mudança e variação linguística, expressão de modalidade e discursos líricos subversivos. É atualmente Decano para o Ensino na Faculdade de Filologia de Universidade de Lípsia.
Tarrafal: Cinematic and Photographic Memories of the 'Slow Death Camp'
Laura Meltke (Technische Universität Chemnitz)
On May 1, 1974, the liberation of prisoners from Tarrafal Camp on Santiago Island, Cape Verde, was celebrated with cheers by the local population. Since its establishment in October 29, 1936, over 500 people were imprisoned there: initially, mostly Portuguese opponents of the Salazar regime, and from the 1960s onwards, increasingly African anti-colonialists from Angola, Guinea, Cape Verde, and other regions. Thirty-seven people died in the camp, which was also known as the “Camp of Slow Death”. Due to the inhuman conditions and brutal torture, it became a symbol of both repression and resistance. In 2006, the former concentration camp was declared a national cultural heritage site, and in 2009, it was transformed into the Museum of Resistance. Beyond numerous literary texts, the Camp’s history has been explored in several documentary films and also in photographic essays, including Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta (Andringa 2011), Há 70 anos, o Tarrafal: Os últimos sobreviventes (Paraíso 2000), and Kapverdische Inseln – unabhängig (Kotanyi/Wyss/Heidrich 1976). (Audio-)Visual testimonies are notably prevalent in these films and essays. In my talk, I will analyse the mnemonic dimensions and techniques used in selected films and one photographic essay and discuss their significance for collective memory.
Laura Meltke ist Wissenschaftliche Mitarbeiterin an der Technischen Universität Chemnitz im Bereich der spanischen und portugiesischen Kulturwissenschaften an der Professur Kultureller und Sozialer Wandel. Ihre Forschungsinteressen umfassen Migration im Film, Island Studies, postkoloniale Theorien, Urban und Mobility Studies. Ihr Dissertationssprojekt trägt den Titel: „Ausharren, Warten, Zaudern. Ästhetiken der Zeitlichkeit im Migrationsfilm atlantischer Inselräume“.
And what about the D of Decolonize? Representations of Portuguese Colonialism in Public Spaces after the 25 April
Leonor Rosas (Universidade de Lisboa)
In the aftermath of the Carnation Revolution, public memorials glorifying the fascist dictatorship were largely removed from Portuguese cities. However, the same was not done with the memory of colonialism. On the contrary, even during the democratic period, new monuments of a Lusotropical and imperial nature began to appear in public spaces, alongside official narratives about the “good colonizer” and the celebrated “Age of Discoveries.” The absence of true decolonization within Portuguese democratic society is reflected in public spaces, which continue to serve as stages for the perpetuation of national myths and the rebranding of old Lusotropicalism. This presentation will explore public spaces as mirrors of the transformations and reinterpretations that the official memory of colonialism has undergone. I will argue that, although the memory of anti-colonial and anti-racist struggles remains widely silenced in public spaces and, to a large extent, in official narratives about democratization, there are signs of an anti-colonial memory emerging in public spaces through activist efforts. This counter-memory is reshaping urban landscapes and contributing to the democratization of the collective memory of the Revolution and Democracy.
Leonor Rosas é doutoranda em Antropologia no ICS-UL, onde está adesenvolver um trabalho sobre a memória colonial no espaço público nas cidades de Lisboa e Bruxelas. É mestre em Antropologia pela FCSH, onde estudou a memória colonial em Lisboae as possibilidades de inscrição e uma memória anticolonial no espaço público. Desta tese demestrado, resultou a publicação do livro "De quem se esqueceu Lisboa - A luta pela inscriçãoda memória anticolonial e antirracista no espaço público". É membro do projeto deinvestigação “Constelações da Memória: um estudo multidirecional da migração e memóriapós-colonial”.
Cravos sim, mas não para todos. Narrativas de memória de retornados e veteranos na literatura e no teatro
Kathrin Sartingen (Universität Wien)
O 25 de abril de 1974 trouxe a liberdade para todos, a independência para muitos e o desprezo para alguns: os retornados e os veteranos foram alvo de ódio e discriminação no decurso do processo de descolonização em Portugal. A sua encenação ficcional no teatro português contemporâneo, bem como em autobiografias (semi-)ficcionais, é o objeto do presente artigo. Estas narrativas de memória revelam novas formas de ler as relações histórico-coloniais e os seus efeitos complexos de uma forma multifacetada e contribuem para uma nova interpretação da Revolução dos Cravos. Tomando como exemplo os textos autoficcionais de Dulce Maria Cardoso (O Retorno, 2011 e Autobiografia não autorizada 2, 2023 ) e Isabela Figueiredo (Caderno de Memórias coloniais, 2009), bem como a peça Um gajo nunca mais é a mesma coisa (2021), de Rodrigo Francisco, os processos de descolonização serão analisados na perspetiva dos retornados e veteranos, tanto no que diz respeito ao seu papel (perpetradores ou antes vítimas?) no processo de independência, bem como no que respeita à renegociação encenada das memórias. Em última análise, o objetivo é rever a historiografia portuguesa numa perspetiva decolonial, na literatura e no palco, para ver se os cravos ainda são merecidos ao cair do pano.
Kathrin Sartingen é professora de Literatura Iberoromânica, Media e Estudos Culturais no Departamento de Estudos Românicos da Universidade de Viena. Os seus focos de investigação incluem literaturas latino-americanas, africanas e ibéricas, paisagens cinematográficas e teatrais; intertextualidades, intermedialidades e interculturalidades (América Latina - África - Ibéria); temas e teorias coloniais e pós-coloniais (migração, memória, narrativas marítimas, identidades e invisibilidades, narrativas testemunhais e docuficções).
Thorns and Carnations in Times of Revolution: Natália Correia, Maria Lurdes Pintasilgo e Dalila Pereira da Costa
Joana Serrado (Technische Universität Chemnitz)
Three thinkers – Natália Correia (1923-1993), Maria Lurdes Pintasilgo (1930-2004), and Dalila Pereira da Costa (1918-2012) – each proposed a distinct yet simultaneous experience of the feminine linked to the collective and the sacred, through concepts such as earth-mother, matriarchy, or grail. This presentation will assess how these connections – referred to as Sacred Carnations – have evolved in response to the political transformations and feminist achievements of the Carnation Revolution.
Joana Serrado (1979) estudou filosofia e história das Ideias em Coimbra, Humboldt Berlin, Porto e Groningen. A sua investigação, centrando-se na democratização do labor filosófico a partir do legado de místicas e devotas premodernas, tem sido publicada na Early Modern Women Journal, Routledge, transcript-De Gruyter, e Mediaevalia, U. Coimbra, entre outras. Desde 2020 é docente na Cátedra de Estudos Ibéricos de U. Técnica de Chemnitz.
Wiriyamu: Testemunhos, Documentário e Políticas de Memória
Robert Stock (Humboldt-Universität zu Berlin)
Esta comunicação explora a negociação cinematográfica do massacre de Wiriyamu (1972), analisando três filmes documentários de Moçambique e Portugal e centrando-se em as formas como mobilizam o testemunho audiovisual: 25 (dir. José Celso Martinez Correa e Celso Luccas, 1977), Mozambique: Treatment for Traitors (dir. Ike Bertels, 1983) e Regresso a Wiriyamu (dir. Felicia Cabrita e Paulo Camacho, 1998). O testemunho audiovisual (Sarkar e Walker 2010) – de antigos soldados coloniais ou sobreviventes do massacre – ocupa um lugar importante para abordar as memórias da violência colonial nestas produções, uma vez que não existem provas fotográficas ou cinematográficas do massacre. Contudo, é preciso questionar como os testemunhos são funcionalizados para sustentar certas “políticas da história” (Eze 2010; Coelho 2013; Loff 2010) no Moçambique independente ou em Portugal. Também examinarei a obra multiperspectiva A Guerra, de Joaquim Furtado, e apresentarei uma visão do debate do historiador em torno da violência colonial para explorar as recentes repercussões do fim do império (Dhada 2013, 2017; Reis/Oliveira 2013).
Robert Stock ist Juniorprofessor für Kulturen des Wissens am Institut für Kulturwissenschaft der Humboldt-Universität zu Berlin. Nach dem Studium der Europäischen Ethnologie in Berlin und Lissabon promovierte er mit einer Arbeit über kulturelle Dekolonisierungsprozesse und Dokumentarfilme zwischen Mosambik und Portugal an der Justus-Liebig-Universität Gießen.
A questão colonial portuguesa na imprensa desportiva da RDA
Thomas Weißmann (Technische Universität Chemnitz)
Enquanto desporto mais importante do mundo, o futebol não é apenas um fenómeno de massas formador de identidades, mas também um subcampo social autónomo no qual são negociadas todas as questões políticas, culturais e económicas possíveis. O desporto, nomeadamente através dos numerosos torneios europeus de futebol, constituiu uma das poucas zonas de contacto estáveis em que se verificaram pontos de contacto regulares entre as sociedades portuguesas e a RDA, organizadas de forma muito diferente, entre os anos 1950 e 1990. Como o excelente nível das equipas portuguesas era claramente alimentado pelas reservas aparentemente inesgotáveis do continente africano, não é de estranhar que a questão colonial portuguesa fosse também um tema recorrente na imprensa desportiva da RDA. A questão de como, sob a forma de continuidades, ruturas e segundas intenções, está no centro desta palestra.
Thomas Weißmann war wissenschaftlicher Mitarbeiter an der Professur Kultureller und Sozialer Wandel, TU Chemnitz, und promoviert dort zur Rolle des Fußballs im Estado Novo.